quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Resistiremos – 2023

“No vá bajar” Ramon Días, Técnico argentino do Vasco Resistiremos – 2023 Mais um ano de muitas dificuldades para o torcedor vascaíno que viu novamente em campo um elenco que decepcionou em todas as competições disputadas. O melhor mesmo ficou nas arquibancadas e nas redes sociais quando o clube e seus torcedores deram um show de apoio e amor ao Vasco da Gama. Talvez a maior motivação era a celebração do centenário do primeiro título da lendária época dos Camisas Negras (1923-2023). A temporada começou com uma triste notícia: o maior ídolo do clube, o ex-atacante Roberto Dinamite, morria em 8 de janeiro. No dia seguinte uma multidão de torcedores vai ao estádio de São Januário para se despedir do seu artilheiro. Ao longo de sua vitoriosa carreira, Roberto formou várias gerações de torcedores. Até o presidente Lula fez questão de elogiar o jogador: “admirava muito o seu futebol bonito, ofensivo”. E por falar em atacante, a grande promessa de gols para o Vasco para este ano era Pedro Raul. A contratação do artilheiro do campeonato brasileiro do ano anterior criou uma forte esperança de manter a tradição do Clube da Colina ter os melhores atacantes do país. De janeiro até o início de abril foi disputado mais um campeonato carioca sem o brilho das décadas passadas. O time do Vasco conseguiu empolgar pouco a sua torcida (ficou em 3º lugar). Apenas uma vitória sobre o Flamengo na Taça Guanabara mereceu destaque, mas já em março éramos eliminados pelo mesmo rival nas semifinais do segundo turno. O desastre seria completado com a eliminação precoce na Copa do Brasil para o ABC em pleno estádio de São Januário. Os resultados colocaram a torcida em alerta máximo para o restante da temporada. Retornando a Série A, os vascaínos surpreendem a todos com dois ótimos resultados diante de favoritos ao título. Logo na estréia em Minas (15/04), vencem o Galo e , no Maracanã, diante de um ótimo público (quase 60 mil pagantes) empatam com o Palmeiras. Entretanto, a realidade vai se mostrando tenebrosa nas próximas rodadas. O fantasma do rebaixamento volta a rondar. Especialmente durante o período de maio a julho quando perdemos 10 partidas em 11 jogos disputados. O maior alvo da ira dos torcedores era o técnico Mauricio Barbieri. Sua “cabeça” era pedida diariamente nas redes sociais. O ápice da revolta explodiu em São Januário diante do Goiás. O protesto envolveu torcedores que atiravam sinalizadores nos jogadores e depois em diversos confrontos contra os policiais. Embora todos estes incidentes não tivessem feridos com gravidade acabou com a decisão da Justiça proibindo a presença do público nos próximos 90 dias. As razões da punição ao clube motivada por preconceitos e argumentos suspeitos ao considerar a localidade “cheia de insegurança para chegar e sair”, reacenderam o sentimento de injustiça que sofremos ao longo da História. Para reverter estas situação, a diretoria contrata um novo técnico Ramón Días assume o comando do time em 15 de julho. O novo treinador foi enfático na lição de otimismo que queria passar aos seus comandados: o elenco iria lutar até o final para sair daquela situação vergonhosa. Fora de campo surgia um novo mascote vascaíno após o vídeo de uma criança ao ver a mãe depois de 16 dias em estado de coma viralizou em toda a internet. Era o início da “fama” de Guilherme Moura de apenas 8 anos e uma paixão avassaladora pelo Vasco. Logo o carisma do menino vai ganhando espaço na TV e nas redes sociais. Adotado pela torcida ele faz sua estréia no Maracanã no jogo do returno contra o Atletico Mineiro. A vitória, o bom público ( mais de 50 mil) e a apresentação do francês Payet renovaram as esperanças dos vascaínos num dos melhores momentos do ano. No mesmo período tivemos o lançamento de duas importantes biografias de ídolos do passado. Uma sobre o atacante Russinho, pelo historiador Bruno Pagano e outra pelo jornalista André Felipe Lima, sobre o Príncipe Danilo Alvim, ídolo dos anos 40 e 50 quando integrou o famoso Expresso da Vitória. O bom momento se prolongaria até setembro quando o clube pode depois de 3 meses de punição novamente contar com a presença de seus torcedores em São Januário. Na goleada contra o Coritiba (5 a 1) foi montado um mosaico em 3D com a palavra “Resistiremos”. Além disso, diversos eventos foram realizados para homenagear a primeira geração vitoriosa do futebol. Na UERJ um debate com o auditório lotado. Depois ocorreu o lançamento da 3ª camisa do clube. Apesar do bom rendimento no returno (ficamos com a 7ª melhor campanha), o time apresentava muitos altos e baixos. Algumas derrotas vergonhosas (goleadas para o Santos – com a provocação de Soteldo) e a goleada em casa diante do Corinthians (uma vitória deixaria fora da ameaça de rebaixamento). Não faltou emoção para a torcida que lotou seu estádios em todos os jogos em que foi mandante (mantendo a média de público de cerca de 20 mil). No final, com muito sofrimento, garantimos a ultima vaga. Festa e alívio geral. Para finalizar temos uma reflexão necessária pois os últimos públicos presentes no estádio de São Januario trouxeram muito orgulho para os vascaínos pois a sua torcida conseguiu dar uma inesquecível lição de amor ao clube no apoio constante ao time conseguindo lotar o estádio (média de 20mil pessoas) e esgotar a venda dos ingressos em poucas horas em todas esta últimas partidas. No entanto, há que se considerar outros dados estatísticos para uma análise mais realista. De todos os 20 clubes que disputaram o Brasileirão em 2023 ficamos apenas na 14ª posição (20.800) e a média dos rivais cariocas foi superior. É claro que é preciso levar em consideração que Fluminense (29.783), Botafogo (26.601) e Flamengo (54.449) obtiveram bons resultados em campo e sempre estiveram entre os 8 primeiros colocados. Outro dado relevante é que este ano tivemos recorde de média público em comparação com todos os campeonatos brasileiros anteriores (26.524), superando o ano de 1983 (22.953). Sendo assim é preciso dar toda atenção na política a ser adotada pelos dirigentes vascaínos nos próximos anos sobre a ampliação do nosso estádio e/ou a utilização do Maracanã.

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2024 Festa na Barreira

“O Vasco ajuda eu esquecer minhas dores” Gui, torcedor-simbolo do clube desde 2023 2024 Festa na Barreira “Enquanto houver um coração infantil o Vasco será imortal”. A famosa frase que exalta a torcida mirim vascaína nunca foi tão atual nesta temporada com a eleição em dezembro do prêmio FIFA para o pequeno e carismático Guilherme Gandra como Torcedor do Ano. Nosso menino de ouro representa o sentido de resiliência coletiva pois apesar das campanhas medíocres não impediu de ainda acreditarmos que vale a pena torcer pelo nosso clube. O ano começou com várias expectativas e muitas apreensões para os torcedores: como seria a relação do novo presidente e ex-jogador Pedrinho e a empresa 777 era a principal questão. O time em campo também era uma incógnita. Ninguem tinha certeza de bons resultados e títulos. O receio parecia ser uma profecia pois no campeonato carioca o clube não consegue superar a surpresa da competição, o modesto time do Nova Iguaçu. Atingiu a proeza de não fazer um gol no adversário em dois jogos ( mesmo com o Maracanã lotado de vascaínos. A relação do time e da torcida com o técnico argentino Ramon Diaz começa a sofrer um grande abalo. Fora de campo o orgulho vascaíno era exaltado com a comemoração dos 100 anos da Resposta Histórica. Várias lives na internet, palestras, debates e eventos celebraram esta marca que colocou o clube definitivamente como pioneiro na luta antirracista no futebol. No entanto o começo do campeonato brasileiro para sua torcida que viu seu time ser goleado para o Criciúma em São Januário e pelo seu rival no Maracanã. Os primeiros grandes protestos contra o presidente foram atônica dos comentários nas redes sociais. A fase ruim foi completada com a notícia do falecimento do famoso jornalista Sergio Cabral (14 de julho). Ele que tinha sido uma das principais figuras cruzmaltinas na imprensa esportiva. Ainda em julho tivemos o momento épico da torcida no ano com o retorno a São Januário do ídolo Philipe Coutinho depois de meses de negociação. Sua apresentação mobilizou toda a comunidade vascaína lotando o estádio. Algo inédito na proporção de público. Jamais um jogador recebeu tamanha manifestação (nem Tostão em 1972 e Bebeto em 1989 tiveram a mesma festa). Ao mesmo tempo um novo som fazia ecoar pelos estádios. A música “a Barreira vai virar baile” logo virou um hit e tomou conta do pulmão dos vascaínos em todos os cantos. Outro ponto que mereceu destaque foi o espaço em frente ao Centro Cultural Candinho. Local de histórico origem do clube no bairro da Saúde (Centro da Cidade). Virou moda os vascaínos assistirem aos jogos fora da cidade acompanhando nos telões montados. Imensas galeras se formaram e não faltou animação. O destaque ficou para os jogos da Copa do Brasil a medida que o clube avançou de fase (chegou até a semifinal com o Atletico-MG). Se em campo faltaram os títulos e as grandes vitórias, fora das quatro linhas nos restou celebrar a coroação de nosso pequeno torcedor-símbolo, Gui, de apenas 10 anos. Concorrendo pelo prêmio FIFA de maior Torcedor do Ano, o vascaíno alcançou uma conquista que muito orgulho trouxe para o clube. A legítima e indiscutível consagração de nosso garoto é a maior esperança de que dias melhores virão

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

2020 Um vírus nos estádios

             “a Históra do Vasco deveria ser ensinada nas escolas"

                                                      Luiz Antonio Simas, escritor

2020       Um vírus nos estádios

 

Para renovar o elenco desta temporada o presidente do Vasco Alexandre Campello contratou o atacante argentino German Cano que foi recebido com uma grande festa pela torcida no aeroporto. Entretanto, o futebol deste fatídico ano teve como problema maior  derrotar outro inimigo que enfrentaríamos fora das quatro linhas. O vírus que surgiu na China no fim de 2019 parecia uma ameaça pouco remota. Parecia ...

 Para arrumar o time nossos problemas começaram com saída do técnico Wanderley Luxemburgo que havia conseguido dar um padrão de jogo ao time no ano anterior. Para o seu lugar assumiu Abel Braga que não arrumou um time equilibrado e logo nas primeiras rodadas revoltou a torcida ao declarar após a derrota para o Flamengo na Taça Guanabara que “o jogo foi lindo”. Logo começaram os protestos em campo e nas redes sociais, o técnico Abel tentou minimizar o fato: “A torcida me conhece bem. O torcedor é soberano. Problema zero. Eu gosto dessa torcida porque quando joguei aqui, com essa camisa, a minha alma ficava lá. Estou tentando fazer isso com esse time".

As derrotas e o desempenho pífio do ataque vascaíno provocaram a derrubada de Abel ainda em fevereiro. Neste início de caminhada somente dava para comemorar as realizações de fora das quatro linhas. Uma delas foi o primeiro desfila da União Cruzmaltina. Formada por vários integrantes das torcidas, a agremiação carnavalesca desfilou no Na Intendente Magalhães no Grupo de Avaliação. Outro fato marcante foi a comemoração dos 50 anos de fundação da Força Jovem do Vasco (1970-2020), completado no dia 19 de fevereiro. Apesar de afastada dos estádios (proibida pelas leis desde 2014), vários integrantes fizeram questão de reverenciar a maior torcida organizada do clube durante vários anos.

Entrou o mês de março e a torcida deu uma grande manifestação de apoio ao clube comparecendo mais de 30 mil pessoas no estádio do Maracanã no jogo contra o ABC válido pela 2ª rodada da Copa do Brasil. Na semana seguinte, agora em São Januário, o Vasco era derrotado pelo Goiás na 3° rodada e os alvos só aumentaram contra Abel e o presidente Campelo. Mas as noticias de uma pandemia mundial se aproximando do país eram cada vez mais evidentes. No dia 13 de março já era uma realidade que o Brasil entrava na rota definitiva da Covid.

Com a paralisação de varias atividades econômicas e a proibição de aglomerações, as praças esportivas tiveram que ser fechadas  por um bom tempo. Não foi um momento tranqüilo para ninguém, a cada dia um amigo, um conhecido ou parente  era internado. Muitos não resistiram. Entre eles estavam famosos vascaínos, como o escritor Rubem Fonseca. (falecido em 15 de abril) e depois o músico Aldir Blanc (morte em 4 de maio).

 Nas redes sociais os torcedores se mobilizam para ajudar os mais necessitados que perdiam os seus empregos. Até mesmo e ex- presidente da república Lula, através da internet pede para os torcedores vascaínos ajudarem aos ambulantes do estádio de São Januário, fruto de uma campanha promovida pala cantora vascaína Teresa Cristina.

Em maio, o destaque foi a exibição na Rede Globo da conquista da Taça Libertadores em 1998, Com grande audiência, os torcedores mataram saudade de um time e uma época que o Vasco dominou o futebol sul-americano.

Apesar de vários protestos de grupos de torcedores no Rio de Janeiro e em São Paulo, que inclusive ocuparam as ruas unindo torcidas rivais, o futebol voltou em julho. No primeiro jogo depois das paralisações, na continuação do campeonato carioca os jogadores do Vasco se unem aos jogadores do Macaé e fazem um protesto lembrando o assassinato de um negro americano que mobilizou o mundo inteiro. Os jogadores se ajoelham juntos ao redor do grande círculo para lembrar dos protestos intitulados “Vidas Negras Importam”.

Após a péssima campanha no campeonato carioca, o Vasco contrata o ex- jogador Ramon Menezes para comandar o time para a Copa do Brasil e para o nacional  de 2020. No início de agosto mesmo com um número elevado de novas infecções e mortes por causa da pandemia os clubes se prepararam para o campeonato Brasileiro. E foi neste mês que o Vasco viveu seu melhor momento no ano. A primeira boa notícia foi a recuperação do ex-medico Clovis Munoz curado da doença. Ainda neste período o clube alcança bons resultados e assume a ponta do campeonato nacional (algo que não acontecia desde 2012). Também neste período é lançado o livro do geógrafo Leandro Fontes: “Vasco, o clube do Povo”. Ainda nesta época o presidente Alexandre Campelo anuncia um audacioso e polêmico projeto de reestruturação de São Januario, transformando o estádio em modernidade e aumentado a sua capacidade para 45 mil pessoas.

Com os torcedores impedidos de se reunirem nos estádios restava como novas alternativas os canais da internet e suas lives[1]. Era o torcedor mantendo acesa a sua paixão através dos criativos formatos de acompanhar o futebol que não fosse através de sua presença no estádio. Aliás, as transmissões esportivas contaram com um apoio marcante de DJs em todos os campos esportivos que utilizavam os sons dos “gritos de guerra” das suas respectivas torcidas. Em São Januário, não foi diferente e assim era possível matar a saudade e fingir que o campo estava repleto de torcedores. Mas a realidade é que o lamento do “novo tempo” era o sentimento mais freqüente. Como lembra o casal de vascaínos Mauro Araujo e Carolina Santos: “nunca ficamos tanto tempo longe de São Januário. Oito meses parece uma eternidade”, reclama o casal pela internet.

E foi pelas redes sociais que o torcedor se reinventou com a ampliação de “lives” e grupos de WhatsApp que se proliferaram neste momento. E a temática se concentrava na péssima campanha do time em outubro e novembro e na disputa acirrada pela presidência do clube. Três foram os principais adversários que dividiram as atenções dos torcedores. Leven Siano (Somamos) Jorge Salgado (Mais Vasco) e Julio Brant (Sempre Vasco) trocaram muitas acusações entre si mostrando que a paz no ambiente político do clube estava longe. Inicialmente a vitória ficou com Leven Siano que venceu no dia 07 de novembro com votação presencial. Mas em seguida os derrotados apelam para a Justiça que remarcou para 14 de novembro.

O mês de dezembro foi tenso para os vascaínos com a indefinição da eleição para presidente do clube, a péssima campanha do time no campeonato nacional ficando na zona de rebaixamento e aumento dos casos de covid na cidade do Rio de Janeiro. Somente no dia 21 é que foi definido pela Justiça que o resultado válido foi o que consagrou Jorge Salgado como novo presidente do clube.

            O ano terminou sem a torcida poder sonhar com o time se mantendo em disputar a Serie A do campeonato nacional no ano seguinte pois o calendário foi estendido até fevereiro de 2021. Um ano para esquecer em todos os sentidos.



[1] São inúmeros os canais, por exemplo: “Na Torcida Vascaíno”, “Superpapo Vascaíno”, “Casaca”, “Vasguerreiro”, ”Fuzarca”, “Portão 9”, “Resenha com o Almirante”, “Da-lhe Vasco”, “Mario Coelho Vasco”, “Vasco TV (oficial)”, “Machão da Gama”, “Atenção Vascaínos”,”Cruzada Vascaína”,”Cruzmaltinos”, “Sou Vascaíno”, “Fala Vascaíno”, “Conexão Casaca”, “Vascaíno da Baixada”, entre centenas de outros canais de vascaínos pela rede.

 

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2019 Tua Imensa Torcida Quer Voltar a Ser Feliz

 


                                             “Time de Viados, Time de Viados"
            Xingamentos para os São-paulinos  em São Januário

2019 Tua Imensa Torcida Quer Voltar a Ser Feliz


Longe dos resultados esperados, o time do Vasco, em 2019, foi um coadjuvante na maior parte das competições. A não ser o título da Taça Guanabara, ficamos devendo com o vice-campeonato estadual, a eliminação na quarta fase da Copa Brasil e o fantasma do rebaixamento no início do campeonato brasileiro.
Foi um ano de ver a ascensão esportiva do rival e do avanço da Flapress nos meios de comunicação. Ao longo de todo o ano, vascaínos e rubro-negros se envolveram em várias polêmicas desde a utilização do escudo do Flamengo na camisa do Vasco, até a declaração infeliz do atacante rubro-negro Bruno Henrique “de que seu clube era de outro patamar”.
A maior alegria da torcida foi com a revelação do jovem (17 anos) Talles Magno[i]  e as tristezas ficaram por conta das mortes dos ex-presidentes Antônio Soares Calçada e Eurico Miranda. Além deles, o ex-goleiro e campeão de 1974, Andrada, também deixou saudades. Nas arquibancadas, o luto foi com a passagem de Yara Barros, fundadora da Torcida Feminina do Vasco Camisa 12 (criada nos anos 1970).
O episódio mais polêmico do ano envolvendo a torcida do Vasco foi durante a partida com o São Paulo, em São Januário, no final de agosto. No jogo em que vencemos por 2 a 0 (com destaque para a atuação de Talles Magno que fez seu primeiro gol como profissional e foi eleito o melhor da partida), a torcida empolgada com a atuação do time começou a provocar os adversários. No entanto, como a CBF havia anunciado punições mais rigorosas a gritos preconceituosos nos estádios, o técnico Vanderlei Luxemburgo e os jogadores do Vasco pediram calma à torcida quando se ouviram os primeiros gritos ofendendo os paulistas.
Em setembro a torcida se mobilizou e atingiu a meta de R$ 2 milhões em doações no sistema “vaquinha online” para as obras iniciais da construção do Centro de Treinamento. Por diversas vezes até o fim do campeonato a torcida dava demonstrações de apoio irrestrito ao time lotando os jogos em São Januário e batendo recorde de público da competição no último jogo no Maracanã (quase 70 mil pagantes).
Nos últimos meses, enquanto o time brigava (sem muito brilho) por uma vaga na Libertadores, duas novas obras renovavam a biblioteca vascaína com o lançamento de “Todo Dia é Dia de Vasco”, do publicitário Sérgio Almeida, e o monumental “Almanaque do Vasco”, produzido pelo gripo Pesquisa Vasco, liderados por Alexandre Mesquita e Mauro Prais. Sem dúvidas, o Almanaque será uma fonte inesgotável para as novas pesquisas sobre o clube e um material obrigatório de consulta para os amantes do esporte.
Na mesma semana que o rival conquistava a Libertadores, o Vasco iniciava uma campanha para aumentar o número de sócios. Em menos de uma semana o clube conseguia atingir os 120 mil associados, até ultrapassar aos inacreditáveis 184 mil (o maior do Brasil e o quinto no mundo). Um número que nem mesmo os dirigentes vascaínos esperavam alcançar. O ano que terminaria com poucas chances de novas alegrias, fechou com a notícia que o nosso quadro social já era um dos maiores do Brasil, o que serviu como alento para o ano seguinte.
O final do ano para o vascaíno estava entre o céu e o inferno. Com a conquista da Taça Libertadores da América pelo rival e a imprensa (perdendo a máscara de imparcial) fazendo papel de propagandista oficial do inimigo, tudo terminou como mais queríamos. A vitória do Liverpool deu aos vascaínos munição suficiente para azucrinar com os rubro-negros pelas redes sociais. Nossa vingança (esperada desde 1998 com a derrota para o Real Madrid e a criação da fictícia torcida Fla-Madrid) foi intensamente comemorada. A esperança de um novo ciclo para o Vasco está mais viva. É a certeza dos torcedores que terminam o ano de 2019 como o clube de maior número de sócios do país.


[i] No início do ano o elenco dos juniores chegou até a final perdendo o título para o São Paulo na tradicional Taça São Paulo de Juniores.

Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

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2018 “UUUUUUUUU”

    “Aqui lutamos por negros e operários”

              Adesivo da Esquerda Vascaína

2018        “UUUUUUUUU”
            
As incertezas sobre quem seria o novo presidente do clube com a divisão da chapa vencedora[1] já demonstravam aos vascaínos que o ano de 2018 prometia muitas esperanças (com a volta do clube ao disputar a Taça Libertadores e a vitória de um candidato de oposição) e também muitas incertezas. Teria o novo presidente capacidade de unir o clube? Nosso time estaria em condições de voltar a dar alegrias a massa vascaína? Os resultados ao longo do ano com as frequentes divisões na política interna do clube e as seguidas derrotas e eliminações precoces nas principais competições, terminaram por frustrar a todos os cruzmaltinos.
O time começa empolgando na Libertadores com uma convincente vitória de 4 a 0 no Universidad de Concepcion, no Chile. No mesmo período o Vasco disputa o campeonato carioca e consegue chegar a final como favorito diante do Botafogo. Diante de quase 60 mil pessoas (o maior público do clube no ano) o time consegue manter o empate (placar que lhe dava o título) até o final. Quando a torcida já ensaiava os gritos de “é campeão!!!” veio o gol do Botafogo. Nos pênaltis, o adversário consegue nos superar por 4 a 3.
Perdido o estadual, começávamos a atravessar o pior momento do ano com a eliminação na Libertadores após a derrota para o Cruzeiro em pleno estádio de São Januário com um placar adverso avassalador: 4 a 0. Na mesma época o clube vendeu a nossa maior promessa, o atacante revelado nas bases Paulinho, por 20 milhões de euros (a maior venda de um atleta na história do clube).
Não faltavam elementos para uma crise profunda se instalar no clube. Sem sua maior promessa, eliminado precocemente na Libertadores, com derrotas inexplicáveis e acirrada briga interna entre sócios, torcedores e conselheiros, sobrou para o técnico Zé Ricardo que pede demissão.
A maior polêmica do ano para os torcedores do Vasco não foi contra os torcedores rivais ou seus dirigentes. Começou através de uma foto em que sete jogadores[2] postaram em suas redes sociais criticando a atitude da vaia dos torcedores (“Hhhhhuuuuu” era a legenda em que os jogadores posam na foto). O que os atletas não esperavam foi a imensa repercussão dos vascaínos que se mobilizaram pela internet e passaram a reagir com muita veemência. Durante a semana e ao longo de todo o ano os jogadores não tiveram vida fácil e foram hostilizados pelos estádios e no mundo virtual
Pouco antes da Copa do Mundo na Rússia um grupo de torcedoras cria um coletivo em defesa da presença feminina nos estádios. O grupo “Vascaínas contra o Assédio” foi a grande novidade nas arquibancadas carioca deste ano promovendo inúmeras campanhas ao longo do ano ao defender uma série de ações afirmativas combatendo o ambiente de machismo nos estádios.
            A repercussão mundial de um vídeo de brasileiros assediando uma russa as vésperas da Copa demonstrava como aquele comportamento estava enraizada na cultura torcedora brasileira. O repúdio nas redes sociais serviu de estímulo para várias iniciativas de combate a este tipo de comportamento. A ação inicial das vascaínas, só serviu para confirmar o pioneirismo de nosso clube.
            Uma pausa para os vascaínos se concentrarem em acompanhar a Copa e a estrela do ex-jogador vascaíno Philippe Coutinho começa o ofuscar o grande nome da seleção, o atacante Neymar. O vascaíno é o principal destaque da seleção na primeira fase da competição. Mas este não vai ser um ano para os cruzmaltinos comemorarem nada.  O Brasil é eliminado pela Bélgica. Restava a Copa do Brasil, a Sul Americana e o Campeonato Brasileiro.
Pela Copa do Brasil, a vitória de 2 a 0 diante do Bahia não possibilitou passarmos de fase. No torneio internacional, novamente o time até consegue vencer o LDU (Equador) com vitória de 1 a 0 em São Januário (quase 20 mil pagantes) mas o resultado não foi suficiente para a classificação. Restaram os aplausos ao time e as vaias para o técnico Jorginho, que foi chamado de “burro” pelos torcedores.
             Na véspera de comemorar os 120 anos de fundação, o Vasco recebe o Ceará em casa. Diante de um adversário na penúltima colocação, milhares de vascaínos lotam[3] São Januário e pressionam o time ao ataque entoando: “não é mole não, ganhar no Caldeirão é obrigação”, mas saem frustrados com um empate. O time continuava muito próximo da zona de rebaixamento.
Em setembro o time do Vasco volta a jogar no Maracanã para enfrentar o Santos. Cerca de 34 mil pessoas (maior público no Rio fora os clássicos) se revoltam com a derrota por 3 a 0[4] e gritam “time sem vergonha”. O resultado é uma ducha de água fria nas pretensões do clube se afastar da zona de rebaixamento.
A reta final do Brasileirão combinou com a tensão na acirrada disputa presidencial do Brasil que fez os ânimos se exaltarem em todo o país. Nas arquibancadas cariocas e nas ruas da cidade, a novidade veio da união de movimentos de torcedores de esquerda que se unem para defenderem suas bandeiras nos estádios e nas passeatas. Em São Januário, o movimento “Esquerda Vascaína”[5] aproveita o momento de adesão irrestrita dos torcedores nos jogos contra (Atlético-PR, público de 20 mil, São Paulo 15 mil e Palmeiras, recorde de público em nossa casa  em 2018 com 21 mil pessoas) e faz uma campanha com milhares de adesivos no peito lembrando o passado glorioso do clube ao lutar contra o racismo e destacar sua origem social. Na semana de comemoração do Dia da Consciência Negra, os vascaínos recebem o adesivo com a frase: “aqui lutamos por negros e operários”.
Apesar de a torcida abraçar o time em casa o fantasma do rebaixamento se prolongou até o último jogo. “UFA” esta foi a expressão de alívio que os vascaínos de todo o Brasil manifestaram quando o juiz apitou o final da partida diante do Ceará. O empate em 0 a 0 amenizou a humilhação diante da iminência de um novo rebaixamento e dos terríveis cálculos matemáticos que fazíamos para derrotas dos outros candidatos a caírem de divisão. O ano terminou de forma melancólica para uma torcida que em momento algum abandonou o time nas últimas rodadas. Diante de tantos sofrimentos e desilusões, foi o que salvou o nosso orgulho ao demonstrar tamanha dedicação ao clube em momento tão delicado. Poucos clubes podem ter isto em sua História. Mas em honra aos times do passado o nosso destino glorioso de vitórias deve ser logo retomado.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] A primeira surpresa do ano para os vascaínos veio em janeiro através da eleição de Alexandre Campello ( recebeu 154 de 242 votos de conselheiros). Esta  foi a primeira vez na história do clube que o vencedor da eleição realizada pelos sócios ( Julio Brant) não venceu no Conselho Deliberativo.
[2] Fabrício, Gabriel Felix, Erazo, Evander, Paulão, Wellington e Rafael Galhardo.
[3]  Cerca de 15 mil pessoas numa segunda-feira a noite.
[4] Esta foi a primeira derrota do Vasco para o Santos no Maracanã depois do jogo em que Pelé marcou o milésimo gol em 1969.
[5] Criado em 2017, o movimento de torcedores “Esquerda Vascaína” começou a se destacar em 2018 ao fazer  diversos  atos e protestos políticos no estádio.

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2017 São Januário – 90 anos

             “Portões Fechados, Corações Abertos"
      Evandro Domingues– blogueiro vascaíno

2017      São Januário – 90 anos

Motivo de orgulho para todos os vascaínos, o glorioso estádio do nosso clube comemorou nove décadas em 2017 com a expectativa do time do Vasco alcançar o tricampeonato carioca e de uma boa campanha na sua volta a Primeira Divisão no Brasileirão.
Palco histórico de comemorações cívicas na Era Vargas e o maior estádio do país até 1940, nosso campo esportivo em festas voltou a brilhar nas manchetes dos jornais e revistas. No entanto, não foram apenas as notícias sobre as comemorações, mas também foram destaques as manifestações de sócios e torcedores contra a diretoria e a sua interdição por quase três meses em função de uma briga generalizada ocorrida no clássico contra o Flamengo numa partida do campeonato brasileiro.
Para o campeonato carioca chegou o atacante Luis Fabiano no fim de fevereiro, trazendo uma grande esperança para a torcida vascaína que lotou o aeroporto e fazendo uma festa inigualável em sua apresentação no estádio de São Januário. O jogador fez questão de agradecer o apoio recebido: "primeiramente gostaria de agradecer a recepção maravilhosa. É uma coisa que ficará guardada para minha carreira", e continuou agradecendo "estou muito feliz, de verdade. Torcida do Vasco tem um peso muito grande. Carrega a gente. Vamos correr por eles".
O atacante de 36 anos, com passagens vitoriosas por São Paulo e seleção brasileira, foi a maior aposta do clube para a conquista do tricampeonato carioca e um bom desempenho na volta do Clube da Colina para a Primeira Divisão.
Nos estádios brasileiros e cariocas a polêmica envolvendo torcedores foi revivida com a proposta de torcida única nos clássicos por determinação da Justiça após a morte de um torcedor do Botafogo provocada por um torcedor do Flamengo. Eurico Miranda ameaçava não colocar o time em campo. Pesquisadores, no entanto, contestavam essa medida, alegando falta de eficácia como ação controladora das permanentes brigas entre torcedores rivais. Para Bernardo Hollanda[1] “o princípio de torcida única é problemático, pois se trata de uma espécie de vitória da intolerância, com o reconhecimento da incapacidade do poder público de permitir o ir e vir dos torcedores e com a própria ausência do espírito esportivo na convivência com o diferente”, concluiu.
Em São Januário, durante a partida entre Vasco e Portuguesa um torcedor do Flamengo comparece ao estádio dentro da torcida cruzmaltina e coloca nas redes sociais imagens suas com uma tatuagem do Flamengo e pede 100 curtidas. Logo uma confusão se estabelece quando o torcedor é identificado. Por pouco ele não seria linchado se não fosse a intervenção de integrantes da Ira Jovem que o entregam para a polícia.
Em abril a festa dos vascaínos estava voltada para celebrar os noventa anos do estádio de São Januário. Símbolo da luta do clube para demonstrar aos rivais a sua grandeza, o estádio continua sendo um motivo de orgulho e representação do esforço de associados em manter a tradição do “Caldeirão”, como ele passou a ser chamado carinhosamente nos últimos 20 anos.
O campeonato carioca termina com o clube sendo eliminado pelo Fluminense nas semifinais. Pouco depois da eliminação na Copa do Brasil. A verdade é que foram poucos momentos que a torcida do Vasco pode vibrar com o time e seus ídolos neste primeiro semestre. Apenas o goleiro Martin Silva e o jovem Douglas mereceram os aplausos durante toda a competição. Foram poucas as gozações para os adversários, com destaque para o jogo com o Flamengo, no Maracanã, no segundo turno (Taça Rio) e os gritos da torcida de “eliminado”, num clássico que reuniu pouco mais de 20 mil espectadores. Nem mesmo o título da Taça Rio diante do Botafogo no Engenhão empolgou a galera.
Restou o desafio de fazer uma boa campanha no retorno a primeira divisão do campeonato brasileiro. Apesar do desastre na derrota inicial para o Palmeiras de goleada (0 a 4), os torcedores abraçaram o time em São Januário lotando o estádio (maior público do ano no local: quase 18 mil pagantes) no primeiro jogo do brasileirão em nossa casa. No horário de 11 horas da manhã, o estádio presenciou uma linda festa que culminou na vitória sobre o Bahia e o gol de número 400 da carreira de Luis Fabiano.
O jogo mais polêmico do ano para os vascaínos foi disputado justamente em São Januário em julho com o Flamengo. Um tumulto generalizado entre a torcida do Vasco e a PM (dentro e fora do estádio) acarretou uma pena de interdição de nossa praça de esportes por vários jogos. Para o historiador Luiz A. Simas o que aconteceu neste jogo refletia problemas muito mais profundos na sociedade: “não é apenas sobre futebol. É sobre a cidade. A tragédia de ontem em São Januário é derivada de inúmeros fatores, tais como o despreparo da PM, a crise política do Vasco, a cultura da violência como elemento de sociabilidade entre membros de torcidas, a construção de pertencimento a um grupo a partir do ódio ao outro (elemento marcante da relação entre Vasco e Flamengo nas últimas décadas), o esfacelamento da autoridade pública no Rio de Janeiro, etc”.
Para os sócios e torcedores ir ao estádio seria apenas para a visita da exposição promovida pelo Departamento de Marketing intitulada “119 anos vestindo a Camisa”, apresentando inúmeras roupas históricas do clube. Aliás este foi o tema do documentário Segunda Pele Futebol Clube, retratando colecionadores de camisas de futebol e a sua relação de paixão com a memória do clube. Entre os entrevistados estava o torcedor vascaíno Paulo Reis.
Mesmo proibidos de entrarem em São Januário os torcedores vascaínos prestigiaram o time incentivando-o do lado de fora. Milhares de torcedores deram um “abraço coletivo”  no jogo entre Vasco e Grêmio (futuro campeão da Libertadores em 2017). A vitória que marcava a estreia do técnico José Ricardo foi muito comemorada. Para o atacante Nenê, a presença da torcida incentivando e acompanhando o jogo ao redor do estádio foi decisivo para o resultado positivo: “ O barulho da torcida, mesmo de fora do estádio, foi fundamental para continuarmos com a mesma determinação até o fim”, revelou o atacante. 
Depois do período da punição, a diretoria vascaína preferiu realizar os jogos como mandante no estádio do Maracanã visando impedir as constantes manifestações presentes nas arquibancadas de São Januário com o coro sempre presente de “Fora Eurico!”.
Quando vieram as eleições em novembro, as duas principais chapas tiveram uma acirrada disputa que dividiu sócios, torcedores e torcidas organizadas, terminando com a vitória da situação (Eurico Miranda se reelegia com 2111 votos), enquanto a oposição (lideradas por Julio Brant) alcançava 1975 votos. Embora o clima da disputa deste ano tenha sido mais civilizado que nas eleições passadas, não faltou a polêmica em torno da Urna 7. Caso a urna seja invalidada, a vitória ficaria com a oposição.
O último jogo do ano foi disputado justamente no cenário que comemorava 90 anos de glórias. A partida contra a Ponte Preta representava muito para os vascaínos. Uma vitória daria oportunidade ao clube voltar a disputar a Taça Libertadores em 2018. E a torcida deu mais uma vez uma lição de amor ao clube proporcionando o maior público no estádio do ano (cerca de 22 mil pessoas).
O resultado final deixou o Vasco em 7° lugar (entrando na pré-Libertadores). Uma surpresa para aqueles que desconfiavam do time que começou a competição com uma derrota por 4 a 0 para o Palmeiras.
A previsão pessimista de luta para não ser rebaixado não se confirmou. O time conseguiu se superar mesmo depois da crise com a troca de técnico (Milton Mendes saiu e entrou José Ricardo no meio da competição). Fora de campo a expectativa da galera continuava com a indefinição do novo presidente para os próximos 3 anos.
Sem dúvida, foi um ano que o brilho maior ficou os 90 anos de nosso estádio e a presença assídua da torcida que soube honrar e fazer juz aos torcedores do passado que ajudaram a construir uma obra que permanece na memória afetiva de todos os vascaínos. Assim como em 1927, quando não alcançamos o título, neste ano também passamos em branco. Quem sabe não pavimentamos neste ano um novo caminho de glórias com a conquista da Libertadores no ano seguinte e cantar esta música entoada nas arquibancadas
Eu vou torcer
Aqui eu ergui meu templo para vencer
Eu já lutei por negros e operários
Te enfrentei, venci, fiz São Januário
Camisas Negras que guardo na memória
Glória, lutas, vitórias esta é minha história
Que honra ser
Saiba eu sou vascaíno, muito prazer
Jamais terás a cruz, este é meu batismo
Eu tive que lutar contra o teu racismo
Veja como é grande meu sentimento
E por amor ergui este monumento..."
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Entrevista para as páginas amarelas da Revista Veja após a repercussão do assassinato em 2 de março de 2017 de Moacir Bianchi  por integrantes da própria torcida que ajudou a fundar: a Mancha Verde. Fonte: Revista Veja 9 março de 2017.

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2016 Aqui é Vasco

     “A partida de futebol é mais disputada por torcedores 

                                    do que por atletas no campo”
                                   Drummond, poeta e vascaíno

2016       Aqui é Vasco
        A temporada vascaína neste ano foi bem esquizofrênica. No primeiro semestre a caravela do Almirante atravessou os mares atropelando os adversários cariocas e levantou com brilho o bicampeonato estadual. O time permaneceu 34 jogos invictos e apresentou todas as melhores credenciais para fazer uma ótima campanha pela Série B no segundo semestre. No entanto, o que se viu foi uma travessia marcada por muitas turbulências, com derrotas para times inexpressivos e um desempenho pífio. Resultado: estádios vazios e desânimo geral da torcida com o elenco.
            Logo no início do ano, o clube inicia uma campanha de sócio-torcedores intitulada “Gigante”. A iniciativa visava aumentar o número de associados e era baseada em modernos conceitos de marketing esportivo, com promoções diversas e outros atrativos. Por outro lado, o presidente Eurico Miranda, sugeria uma “Bolsa Torcedor”, criando um sistema de cotas para os adeptos mais carentes com ingressos de baixo custo.
            Em ano de Olimpíada na Cidade Maravilhosa no mês de agosto, os clubes cariocas ficaram sem os dois estádios reservados para o evento: o Maracanã e o Engenhão permaneceram fechados nestes meses.  Para o Vasco isso não foi um grande problema pois o estádio de São Januário foi utilizado pelo clube em diversos jogos, como na partida com o Flamengo, em fevereiro. Ao terminar a disputa com vitória vascaína, o principal jogador do elenco, Nenê, resolver inverter as ações e filma a festa da torcida vascaína. Em tempos de popularização de smartphones, as imagens se multiplicam pelas redes sociais. Foi-se o tempo em que os torcedores se aproximavam dos ídolos para pedir um autógrafo. A moda nestes anos era tirar uma selfie com o craque e postar nas redes sociais.
            O campeonato prosseguia e o clube permanece com uma campanha tranqüila jogando com o Fluminense (decisão da Taça Guanabara) e Flamengo em Manaus, na Arena Amazonas. Nesta cidade novas vitórias levam o clube disputar o campeonato com o Botafogo em maio. A partida contra o rubro-negro, particularmente, teve um sabor especial, com a seqüência de nove partidas sem conhecer derrotas para o principal rival.
            Nas duas partidas da final do estadual, os clubes conseguem a reabertura do Maracanã. O estádio recebeu nas duas vezes um público estimado em 60 mil torcedores por partida. Na segunda, a torcida vascaína era maioria absoluta. A festa do título foi marcada com o mosaico “Aqui é Vasco”. Uma frase proferida pelo capitão do time, o zagueiro Rodrigo, em alusão aos torcedores e jogadores do Flamengo, inconformados com a superioridade dos cruzmaltinos  na temporada. Era o 24° título estadual, sendo o 6° invicto.
             Começa o campeonato brasileiro na Série B e o clube é apontado pela imprensa como favorito absoluto. Os resultados iniciais confirmam as expectativas e a torcida se empolga com a possibilidade do time bater o recorde histórico de mais de 35 partidas invictas, feito alcançado na década de 1950.
Em junho, o jornal O Dia, promove a festa da Seleção do Campeonato Carioca e vários jogadores vascaínos foram escolhidos. Um deles, o zagueiro Luan, convocado para disputar o título inédito de Medalha de Ouro nas Olimpíadas, que agradece o apoio dos torcedores. Outro premiado foi o técnico Jorginho que ressaltou: "quero agradecer de todo coração à votação de todos os torcedores. Fico muito feliz de ter sido escolhido o melhor treinador do Carioca. Isso aconteceu pela federação e também pelo voto popular. Fico muito lisonjeado e grato porque, com certeza, marquei meu nome na história do futebol Carioca e do Vasco”[1].
Na mesma época, o jornalista André Schmidt, lança o livro “Da queda ao Bi – a trajetória do Vasco em crônicas”. Uma coletânea de artigos escritos no período de recuperação da auto-estima dos vascaínos sob o comando do técnico Jorginho. Mesmo fazendo uma campanha de recuperação no final de 2015, o treinador não consegue reverter a situação. Mais uma vez a torcida amargava o dissabor de acompanhar o clube viver a experiência negativa de rebaixamento por 3 vezes em 8 anos.
Talvez estes insucessos expliquem o baixo público em São Januário durante o ano com média de 6.000 torcedores. Uma pesquisa para identificar os motivos da baixa média de público da equipe na Colina, realizada pela Comissão de Festas Cruz-Maltinas[2],  apontou outros dois problemas principais: o alto valor dos ingressos e a dificuldade de acesso ao estádio. Apesar do departamento de marketing ter lançado o novo plano de sócios (Gigante), os números alcançados ainda decepcionantes. Segundo os dados do Movimento Por um Futebol Melhor, o Vasco ocupava a 21ª posição no ranking de sócio-torcedores.
Em campo, a perda da invencibilidade veio com o resultado adverso de 2 a 1 para o Atlético-GO, em Cariacica (ES). Era o primeiro indício de que o elenco tinha problemas. O deslocamento constante por regiões distantes do eixo Rio-São Paulo, prejudicava o grupo que contava com muitos jogadores com mais de 30 anos.
Em agosto o movimento “Guerreiros do Almirante” completava dez anos de existência comemorando com uma grande festa. No campeonato carioca os torcedores tinham confeccionado uma grande bandeira com o rosto da torcedora-símbolo Dulce Rosalina.
Numa outra pesquisa, promovida pelo Jornal Lance/IBOPE, revelou que o Vasco contava com 3 milhões de torcedores no RJ. Porém, em comparação com os números da primeira pesquisa (1998), houve um aumento dos torcedores rubro-negros. Os números indicavam que a torcida do Flamengo era maior do que as de Vasco, Fluminense e Botafogo juntas. Em 1998 representava 38 %, agora são 48,3%. Na pesquisa, o Vasco agregava 18,7% dos cariocas, percentual que superava o total de tricolores e botafoguenses (17,4%). Juntas, as duas torcidas tiveram uma redução de 4,6%. Se esta notícia agradou a turma da Flapress, para os vascaínos, o que valeu no ano foram as inúmeras gozações que os rubro-negros sofreram neste ano. Uma das músicas mais cantadas pelos vascaínos dizia: “Oh mulambo, tu não tem Estádio,/Oh mulambo, tu não tem Estádio,/ pediu pra jogar, em São Januário,/Eurico falou joga na casa do c.....”
O desempenho irregular no campeonato da Série B acabou gerando inevitáveis protestos dos torcedores. A reação do clube foi punir algumas torcidas organizadas: “(estas tem) sofrido punições nos últimos jogos. Diante do Avaí, por exemplo, a diretoria solicitou à Polícia Militar a proibição de instrumentos, faixas, bandeiras e outros materiais de todas elas. Já diante do Luverdense, a restrição se deu somente à Guerreiros do Almirante e à Força Independente. As duas, além da Ira Jovem, recentemente divulgaram notas de repúdio ao ato”[3]. No mesmo dia um grupo de cerca de 50 torcedores propõem uma reunião com o capitão do time, o zagueiro Rodrigo.
Nos jogos contra CRB, Avaí e Luverdense o presidente Eurico Miranda foi hostilizado pela torcida, que pediu sua saída do comando. Em nota oficial, a maior torcida organizada do Vasco, a Força Jovem, esclarece sua posição diante do impasse entre os torcedores e o clube: “O G.R.T.O Força Jovem Do Vasco, vem, através de sua diretoria unificada em caráter de esclarecimento, externar, que nenhum integrante de nosso quadro social esteve presente na data de hoje (11/11/16), em São Januário. Lembramos que nossa instituição esteve presente ontem (10/11/16), representada por 50 sócios, em uma reunião pacífica e ordeira com o departamento de futebol do Vasco, visando melhorias no desempenho do time em campo”[4].
Os últimos jogos da Série B foram dramáticos para a torcida que acompanhava incrédula ver o time perder a liderança e cair para o 4° lugar sendo ameaçado de ser o único clube grande não conseguir voltar para a Série A. O desânimo dos torcedores tomou conta dos torcedores que se ausentam dos jogos em São Januário. A decepção com o time fica evidente numa crônica de um jovem torcedor em sua coluna no site Guerreiros da Colina “é bem compreensível a total falta de vontade de acompanhar o time em uma situação tão calamitosa quanto a atual. Acabou a paciência, os vascaínos não agüentam mais essa crescente coleção de fracassos"[5].
No dia 27 de novembro[6] os jornais cariocas estampavam em suas capas as duas manchetes principais: a morte do líder cubano Fidel Castro e a classificação do Vasco para a Série A após vencer o Ceará no Maracanã, no último jogo do campeonato. O estádio recebeu o maior público do Vasco no segundo semestre (49.259 pagantes), revelando que a torcida abraçava o clube apesar do descrédito no time e em seus dirigentes. Ao final da partida o que se viu não foram cantos de entusiasmo, mas xingamentos para o presidente Eurico Miranda.
Terminamos nossa pesquisa recorrendo a uma crônica de Carlos Drummond de Andrade pouco conhecida dos vascaínos. Nela o poeta faz uma homenagem a um dos ascensoristas do prédio do Ministério da Educação e torcedor fanático do Vasco.
O contraste entre a vida de um humilde funcionário que realiza um trabalho repetitivo e sua expressão constante de felicidade chama a atenção do escritor: “sem motivo algum para agradecer à vida, ele agradecia e nos comunicava o otimismo gratuito (...) ninguém sabia que ele se chamava Afonso Ventura. Mas todos sabiam que o seu maior amor era o Vasco da Gama. Liam-se no seu rosto as vitórias do Vasco. As derrotas não era possível ler, pois o rosto do Amigo continuava a espelhar a vitória da semana atrasada ou já espelhava a da semana que vem, que esta seria infalível, 4 a 0, ‘é o Maior’. O Vasco, para ele, não perdia nunca; no máximo, deixava de ganhar, ‘dessa vez’ (...)”[7].
A lição de vida deste torcedor demonstra o poder que a paixão por um clube tem para transformar nosso cotidiano de pouco brilho num turbilhão contínuo de emoções e sentimentos capazes de realizar os desejos fundamentais do ser humano.
Esperamos que a alegria contagiante do torcedor anônimo seja a marca de nossa torcida sempre. Que venham mais 100 anos!!!
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal O Dia. 23 de junho de 2016.
[2] Grupo que organiza mosaicos e bandeirões
[3] Fonte: UOL. 9 de novembro de 2016.
[4] http://www.forcajovem.com.br , 11 de novembro de 2016.
[5] Rafael Serfaty em crônica "Presente sombrio, futuro nefasto"
[6] Neste mês o Jornalista Cláudio Nogueira, autor de vários livros de futebol, lança o e-book  “Vamos cantar de coração: Os 100 anos do futebol do Vasco da Gama” (Biblioteca Digital do Futebol Brasileiro).
[7] Fonte: Correio da Manhã 12 de setembro de 1965.

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